domingo, 24 de agosto de 2008

VIAGENS

Pode um barquinho de papel descendo a enxurrada ser uma viagem? Pode alguém que nunca saiu de seu bairro, de sua cidade, conhecer o mundo?
Eu digo que pode sim! Hoje, que podemos ver China e seus Jogos Olímpicos tão perto como se fosse um jogo no Campinho do Vila, o mundo está pequeno, tão pequeno que observar um barquinho de papel na enxurrada pode ser como navegar nas cataratas do Niágara.
Mas tudo depende... tudo depende de cada um e de como se permite ver o mundo, de como se permite viajar nas possibilidades que se apresentam ao nosso redor.
Quando eu era criança, conheci o mundo nas páginas da enciclopédia que meu pai folheava comigo, vi prédios e conheci cidades tão diferentes da minha, mas de certa forma iguais, porque naquelas cidades também passeia gente pelas calçadas. Em cada cidade do mundo, tem gente que trabalha, que vai a escola ou não vai porque a mãe ficou doente, que estuda ou que falta a aula no dia de prova, gente igual a qualquer um de nós, gente que nasce e morre, no tempo do nosso piscar de olhos.
Saber que há tanta gente assim no mundo me assombra. Saber que posso conhecê-los através da Internet, me deslumbra. Saber que há um programa de computador que me permite ver o bairro e a casa de uma menina que mora na Austrália e que ela pode ver minha casa, me dá um medo... É uma viagem sem sair do lugar... Apenas no computador da escola.
Saber que tem gente que não quer ver o mundo, me entristece. Isso mesmo, fico triste quando sei que tem gente que não consegue viajar, não porque não tem dinheiro, mas porque fechou os olhos para o mundo. Fechou os olhos, os ouvidos e todos os sentidos... Gente que ficou velho, mesmo com 13 anos. Gente que passa por mim todos os dias, ou passa por você, de olhos baixos, pensando pequeno ou pensando vazio. Ui, pensamento vazio me assusta.
Dá pra viajar sim, todo o dia quando a gente sai de casa e se permite ouvir o passarinho que cantou, a árvore que floriu, a lua que ainda aparece no céu quando o sol já ilumina. Dá pra viajar sim quando a gente lê um livro que nos transporta, quando a gente ouve o amigo contar da sua noite, quando a gente escuta o professor falar de um lugar bem longe, quando a agente vê na TV que tem gente morrendo na guerra, que descobriram mais um planeta longínquo, quando acessamos nosso Orkut e participamos de uma comunidade diferente...
Cada viajem pode nos tornar diferentes, mais interessantes, mais felizes. Um dia depois do outro, somos mesmo viajantes. E um viajante que se preza nunca fecha os olhos para nada. Nunca!
E os seus olhos estão abertos para que?

Um comentário:

Dennis Mag disse...

Wowowowowow!!! Adorei ler isto. Na nossa cidade temos exemplos de pessoa s que não se permitem viajar nem mesmo em sonhos, imagino.

Gente que desconhece o outro lado da cerca, gente que só conhece o seu quintal e não tira os pés do chão, pelo contrário apoiam os joelhos com medo de ser arrastada para a vida sem misericódia. Salve-nos Ó Deus!